domingo, 17 de fevereiro de 2013

Descubra a verdadeira história sobre o descobrimento do Brasil

Cabral tomou posse, mas chegou depois. Veja como a busca de um caminho para as Índias trouxe outros navegantes portugueses e espanhóis ao Brasil antes do descobridor oficial

Texto Tarso Araújo | Ilustração Alisson Lima 

Lisboa, 1502. Com a descoberta de um caminho marítimo para as Índias e de uma terra com proporções continentais do outro lado do Atlântico, a capital do reino de Portugal tornara-se um ponto de convergência para espiões de toda a Europa. A cada viagem, os navegantes portugueses entregavam suas anotações a cartógrafos do rei, que consolidavam toda a informação sobre a forma e os caminhos do mundo em mapas cada vez mais completos. Eles eram guardados a 7 chaves em locais como a Casa da Mina e das Índias. A pena de morte para cartógrafos que contrabandeassem mapas não impediu, porém, que o italiano Alberto Cantino conseguisse uma cópia do mapa mais completo que havia do mundo daquela época, uma "carta náutica para as ilhas recentemente encontradas na região das Índias". O espião contratou um personagem misterioso, que teria levado 10 meses para reproduzi-lo, e remeteu a obra ao duque de Ferrara, na Itália. A cópia entrou para a história como o Planisfério de Cantino e serviu de referência para outros mapas europeus do século 16. Com 218 x 102 cm, revelava um mundo nunca visto: grandes partes da Ásia e as terras descobertas por Colombo e Cabral na América. Misteriosamente, a carta também mostra detalhes do litoral norte brasileiro, que até 1502 não fora visitado oficialmente. O que sugere que o mapa foi elaborado com a ajuda de outros navegantes, que teriam chegado ao Brasil antes de Cabral.

Para entender como isso aconteceu, precisamos voltar um pouco mais no tempo, para o início do século 15. Nessa época, os europeus só sabiam navegar em algumas regiões, como o mar Mediterrâneo e as bordas do continente. Além daí, reinava o medo. "Havia desde sempre uma crença em monstros marinhos. Eles também acreditavam que havia zonas do mar em que não se pode navegar porque a água fervia ou porque os navios encalhavam", conta Francisco Domingues, historiador da Universidade de Lisboa, especialista em náutica da Era dos Descobrimentos. Até os mapas tinham coisas imaginárias, como uma misteriosa "Hy Brazil" (veja na página 35). Também havia, é claro, o medo do fim do mundo, que poucos julgavam ser redondo. Muitos navegantes que se aventuravam pelo Mar Oceano, como os portugueses chamavam o Atlântico, iam e não voltavam. Não por acaso, um dos maiores obstáculos à navegação daquela época era chamado de cabo do Medo, ou Bojador, na costa do Saara Ocidental.

Esse cabo e o medo da navegação atlântica começaram a ser vencidos na década de 1430, quando o infante dom Henrique, filho do rei dom João I, passou a incentivar o desenvolvimento da ciência náutica. Sob sua influência, os portugueses desenvolveram uma série de técnicas e de equipamentos que lhes permitiria realizar algumas façanhas. Um dos mais importantes foi a caravela, embarcação que, com duas ou três velas triangulares, podia navegar "à bolina", ziguezagueando "contra o vento". Em 1434, os homens de dom Henrique já haviam superado o cabo do Medo. Com as caravelas, eles foram - e voltaram - muito mais ao sul na costa africana. Na Guiné, nome com que eles chamam toda a costa noroeste da África, fundaram a feitoria de São Jorge da Mina, onde negociavam ouro, escravos, marfim e pimenta-malagueta. No século 15, essa foi a principal fonte de riqueza de Portugal.

Outra grande contribuição dos portugueses foi a navegação astronômica. Graças a um instrumento chamado quadrante - e mais tarde ao astrolábio - foram os primeiros a navegar longe da costa e descobriram que era possível voltar da Guiné mais depressa se contornassem os ventos contrários que sopravam na costa africana. Metendo-se em alto-mar, encontraram e povoaram os arquipélagos de Açores e Cabo Verde. Ninguém tinha tecnologia parecida. Era como se os portugueses fossem capazes de ir à Lua enquanto navegantes de outros países só conseguissem voar do Rio a São Paulo em teco-tecos. Os únicos marinheiros capazes de missões parecidas eram os vizinhos espanhóis.

Novas técnicas de navegação e as riquezas da África já eram suficientes para atrair a cobiça de outros países. E a capacidade marítima de Portugal ganharia ainda mais importância por causa da queda de Constantinopla (1453) e a limitação do comércio com a Ásia. Lisboa tornou-se destino de cartógrafos, astrônomos e navegadores de toda a Europa, interessados em participar da corrida para as Índias - entre eles Cristóvão Colombo, que viveu ali nas décadas de 1470 e 80. Todos os "descobrimentos do Brasil", até o oficial, foram um efeito colateral da busca pela rota para o Oriente.

As Índias ficaram mais próximas dos portugueses em 1488, quando Bartolomeu Dias dobrou o cabo das Tormentas - e o transformou no da Boa Esperança -, no extremo sul da África. A chegada de Colombo à América, 4 anos depois, deu início a uma crise diplomática entre Portugal e Espanha, a patrocinadora de Colombo. A rusga acabaria trazendo ao Brasil navios das duas bandeiras ainda no século 15.

Briga de Tordesilhas

Quando Colombo chegou às ilhas do Caribe, disse ter certeza de estar no Oriente, a um pulo do Cipango (Japão). O problema é que as ilhas, fossem orientais ou não, pertenciam a Portugal, segundo um tratado assinado com o reino de Castela em 1479. A descoberta lançou os dois países numa espécie de guerra fria, com armadas prontas para o combate. Durante dois tensos anos de negociação, dom João 2º, o rei lusitano, insistiu em garantir a soberania sobre o Atlântico Sul, com uma margem de 370 léguas a oeste de Cabo Verde (veja na página ao lado). Seu esforço diplomático garantiu o acerto de Tordesilhas, em 1494, que deixou os castelhanos com as tais Índias Ocidentais e uma grande suspeita: dom João sabia da existência de alguma terra no Atlântico Ocidental, para defender tão obstinadamente seu direito à região onde hoje sabemos que está o Brasil?
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Não há nenhuma evidência de que dom João 2º conhecia terras por aqui. Existem, porém, indícios de que Portugal estava explorando essas bandas desde o regresso de Bartolomeu Dias, em 1489. Um deles são registros de mantimentos, como uma encomenda de mil quintais de biscoitos (pão assado duas vezes, usado como alimento nas viagens), suficiente para abastecer 2 ou 3 caravelas por 2 anos. Outro indício vem de espiões castelhanos, que avistaram a saída de 4 caravelas da ilha da Madeira, em 1493, navegando para Oeste.

Apesar da falta de provas, vários historiadores acreditam que dom João organizou viagens de exploração pelo Atlântico, ao sul e ao Ocidente, para estudar os melhores ventos para chegar ao cabo da Boa Esperança. Só assim os navegantes portugueses teriam descoberto a "volta pelo largo", rota que os fazia passar muito perto do nordeste brasileiro. Será que, nessas viagens, eles teriam visto praias? Não se sabe, é claro, mas no diário de bordo de Vasco da Gama, que em agosto de 1497 fez a volta pelo largo rumo às Índias, está escrito que "achamos muitas aves e, quando veio a noite, elas tiravam contra o sudoeste muito rijas, como aves que iam para terra".

A maior evidência de que dom João sabia ou ao menos suspeitava de terras onde fica o Brasil vem de Cristóvão Colombo. Em sua terceira viagem ao Novo Mundo, iniciada em 1498, Colombo saiu de Cabo Verde, como faziam os portugueses, e seguiu muito mais ao sul do que nas duas anteriores. Em seu diário, escreveu que ia verificar "a intenção del rei dom João de Portugal que dizia que no austro havia terra firme e que por isso teve diferenças com os reis de Castela". Seguindo a pista portuguesa, Colombo de fato topou pela primeira vez com um continente. Continuava achando que tinha chegado ao Cipango. Mas era só a futura Venezuela.

A essa altura, o rei de Portugal já era dom Manuel, o Venturoso. Depois de passar 3 anos adiando uma viagem conjunta de demarcação do meridiano de Tordesilhas, porque era candidato à sucessão do reino de Castela, mudou de planos quando sua esposa espanhola morreu e lhe tirou as chances de unir os reinos. Sabendo da nova viagem de Colombo e imaginado uma disputa sobre os limites de cada reino no Novo Mundo, ele teria enviado uma pequena e secreta expedição para verificar onde, exatamente, passava a linha de Tordesilhas. Essa viagem, comandada por Duarte Pacheco Pereira, teria sido a primeira a visitar o litoral brasileiro, em 1498.

Primeiro português

O Tratado de Tordesilhas tinha alguns problemas de aplicação. Por exemplo, ele não especificava de qual ilha do arquipélago de Cabo Verde as 370 léguas seriam contadas, e não esclarecia qual era o tamanho exato da unidade de medida empregada - cada país calculava a légua de uma maneira, na época. Quando a exploração das novas terras começasse de fato, essas dúvidas certamente causariam polêmica. Logo, era importante conhecer bem a região por onde passava o tal meridiano para não negociar às cegas, quando fosse chegada a hora. Duarte Pacheco tinha vasta experiência em navegação atlântica, determinação de latitudes e longitudes, em viagens de exploração na África e fora consultor técnico das negociações de Tordesilhas, o que fazia dele um homem extremamente preparado para a missão de dom Manuel.

O principal indício da viagem de Duarte Pacheco é um livro que ele escreveu entre 1505 e 1508, chamado Esmeraldo de Situ Orbis, narrando seus serviços prestados ao rei. Nele, Duarte Pacheco diz que dom Manuel lhe encarregara de "descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do Mar Oceano, onde é achada uma tão grande terra firme". Pacheco teria saído da ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, em novembro de 1498 - menos de 6 meses depois de Colombo zarpar do mesmo local. Tomando o rumo sudoeste, seguiu ventos alísios que sopram diretamente para o Brasil. No mesmo mês, avistou terra, dois graus abaixo do Equador. Dali, navegou para oeste, seguindo a corrente das Guianas.

Há poucas dúvidas de que a viagem foi realmente feita e de que ele mesmo a comandou. "O livro era escrito para o rei, sobre missões a serviço do próprio rei. Duarte Pacheco não mentiria", explica o historiador Domingues. Já as dúvidas sobre o real destino de Duarte Pacheco são maiores porque o livro nunca foi impresso, talvez por guardar segredos muito valiosos - mais precisamente uma lista com as coordenadas geográficas de todos os portos descobertos por lusitanos desde o infante dom Henrique. E os manuscritos que restaram, encontrados apenas no século 19, não têm os mapas a que o autor se refere na obra. O texto, no entanto, descreve com minúcias a vegetação e os povos encontrados por Duarte Pacheco em sua missão. No livro A Construção do Brasil, o historiador português Jorge Couto reúne vários indícios de que a tal "grande terra firme" que Pacheco visitou realmente é o Brasil, mais precisamente o trecho compreendido entre o litoral maranhense e o estuário do rio Amazonas.

Outros indícios da viagem de Duarte Pacheco apresentados por Couto são documentos de época e o trabalho de outros historiadores. Um dos mais importantes é o Memorial de la Mejorada, documento castelhano de cerca de 1499, que afirma categoricamente que dom Manuel violou o Tratado de Tordesilhas recém-assinado, enviando expedições que navegaram para oeste do meridiano em áreas da coroa espanhola.

Outro documento importante é o Planisfério de Cantino, do qual tratamos no começo do texto. Ele mostra, em 1502, um golfo chamado de Fremosso, no ponto onde a linha de Tordesilhas passa pelo litoral norte brasileiro. Ora, nem Cabral nem Gaspar de Lemos, que voltou de Porto Seguro para dar notícias do descobrimento em Lisboa, passaram por essa parte do litoral na viagem de 1500. João da Nova, que em 1501 foi às Índias e fez uma escala no cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, tampouco passou por ali. O tal golfo também não apareceria em nenhum outro mapa de origem não portuguesa até 1506. Logo, ele só poderia ter sido identificado em nosso litoral por um navegador português que tenha passado por aqui antes de 1500.

Outros dois estudos do século 20, um português e um inglês, comparam mapas espanhóis e portugueses do século 16 e concluem que o desenho da região do Amazonas dependia da existência de pelo menos "uma expedição lusa por essas paragens, anterior à de Cabral", e que algum português teria subido o rio Amazonas por cerca de 900 km. Para muitos historiadores, Duarte Pacheco foi esse cara. Se foi, por que não foi considerado o descobridor do Brasil? Por um motivo simples: praticamente todas as terras que ele visitou estavam a oeste do meridiano de Tordesilhas e, portanto, pertenciam ao reino de Castela, não ao rei de Portugal.

Embora o tratado obrigasse cada lado a informar ao outro sobre a descoberta de terras na jurisdição do vizinho, nenhum dos dois pretendia dar essa informação de graça ao inimigo. Por isso, inclusive, era importante que a viagem de Duarte Pacheco fosse mantida em segredo. Dom Manuel não sabia, no entanto, que, dentro de muito pouco tempo, alguns súditos de Castela também passariam ali por perto - em mares e terras que pertenciam à sua coroa. E sem guardar segredo. Afinal, como se verá a seguir, os espanhóis viajavam em missão privada, não oficial.

Primeiro espanhol
Aquele ano de 1498 foi intenso. Colombo topou com um continente. Dom Manuel perdeu o direito ao trono de Castela. Duarte Pacheco, ao que tudo indica, chegou ao Brasil. E Vasco da Gama à Índia (apesar de só ter voltado no ano seguinte). Além disso, os reis católicos estavam perdendo sua paciência com seu descobridor genovês. Como combinado antes da viagem, o navegante foi nomeado governador das Índias Ocidentais e explorou as terras descobertas com exclusividade. Só que, mesmo que aquilo fosse o Oriente - como Colombo defendeu até a morte -, ninguém achava especiarias, ouro ou prata ali. Para apressar a exploração do Novo Mundo, os soberanos espanhóis decidiram permitir que empreendedores particulares montassem viagens ao outro lado do Atlântico. Ao saber da notícia, um navegante da cidade de Palos de la Frontera animou-se em organizar sua expedição. Ele havia comandado a caravela Nina na primeira viagem de Colombo, enquanto seu irmão conduzira a Pinta. Juntando seus recursos e alguns empréstimos, montou uma expedição com 4 caravelas e partiu para o Novo Mundo em novembro de 1499. Seu nome era Vicente Yañez Pinzón.

"A primeira menção que se faz a Vicente é de que aos 15 anos percorria a costa catalã com uma caravela, assaltando navios com trigo, para impedir que a cidade passasse fome durante a guerra contra Portugal, entre 1475 e 1479", afirma Julio Izquierdo, historiador da Universidade de Huelva e autor de uma biografia sobre a família Pinzón. Izquierdo explica que Palos, a 50 km de Portugal, era uma espécie de sucursal espanhola da ciência náutica lusitana. "Os portugueses eram, ao mesmo tempo, inimigos e mestres de navegação daquele povo. Na segunda metade do século 15, era a cidade que fornecia marinheiros para o reino de Castela." Os Pinzóns, por sua vez, eram uma das mais renomadas famílias de marinheiros da vila. Não foi por acaso, enfim, que a expedição de Colombo saiu de Palos, com os Pinzóns no comando de 2 das suas 3 naves.

A expedição zarpou de Palos no dia 19 de novembro com uma tripulação muito familiar, com dezenas de amigos e parentes - primos, sobrinhos, tios. O irmão mais velho, Martin Alonso, morrera logo depois de voltar da América, mas o mais novo, Francisco Martin, fora com Colombo na terceira viagem e comandou uma das caravelas na nova missão. As 4 caravelas fizeram uma escala em Cabo Verde e saíram de lá seguindo o vento que soprava para sudoeste - exatamente como teria feito Duarte Pacheco um ano antes.

A pequena esquadra de Pinzón tornou-se a primeira expedição espanhola a cruzar a linha do Equador, o que era um problema, pois, diferentemente dos portugueses, eles ainda não sabiam navegar em alto-mar no Hemisfério Sul. Sem a Estrela Polar, eles simplesmente não tinham referências. Meio perdidos, levados pelo vento e com a ajuda de uma tempestade, eles avistaram terra e desembarcaram no Brasil em 26 de janeiro.

Pinzón e alguns tripulantes gravaram o nome dos reis de Castela em árvores e rochas e, na presença de um escrivão, tomaram posse da terra em nome dos soberanos, batizando-a como Cabo de la Consolación. Registros da época afirmam que o local do desembarque foi o cabo que os portugueses chamariam de Santo Agostinho, que persiste com o mesmo nome, em Pernambuco, embora alguns historiadores defendam que o tal cabo fosse a Ponta de Mucuripe, em Fortaleza. Essa é uma das poucas controvérsias que existem acerca da viagem de Pinzón, pois sua existência e seus passos são muito bem registrados.

A viagem de Duarte Pacheco, como vimos, é um acontecimento não apenas possível mas também muito provável. Ainda assim, não dá para afirmar com certeza que ela aconteceu. Não é o caso da viagem de Pinzón. Tudo o que se passou em sua expedição foi descrito em detalhes por pelo menos dois cronistas, que entrevistaram o comandante e outros tripulantes pessoalmente para publicar os textos um ano depois. Além disso, existe um mapa feito ainda em 1500 pelo navegador espanhol Juan de la Cosa, com detalhes de todo o trecho percorrido por Pinzón.Nele, é possível ler a frase "este cabo foi descoberto por Vicente Yañez", no ponto em que o marinheiro de Palos desembarcou. Historiadores portugueses e espanhóis concordam que ele foi, de fato, o primeiro europeu a chegar ao litoral brasileiro, 3 meses antes de Cabral.

Uma passagem da viagem de Pinzón, no entanto, revela outro enigma sobre as primeiras expedições ao Brasil. Rumando para oeste, o descobridor encontrou o rio Amazonas e passou cerca de dez dias em seu curso, explorando a região. No caminho, as caravelas encontraram um grupo de indígenas. Um grupo armado, dividido em 4 botes, desceu para fazer contato, oferecendo um guizo aos indígenas. Os índios, por sua vez, atraíram os espanhóis com o que os cronistas descrevem como um bastão de ouro. Na tentativa de pegar o "presente", o grupo foi emboscado e seguiu-se uma batalha na qual morreram 8 tripulantes. Como os homens fugiram sem pegar o tal bastão, não se sabe se era mesmo de ouro ou não. O fato é que os índios usaram a isca certa. Como sabiam do interesse desses homens vestidos e barbudos pelo ouro? Será que, antes disso, eles encontraram Duarte Pacheco? Isso jamais saberemos.

A experiência no Amazonas, que Pinzón batizou de Santa María de la Mar Dulce, teve outra consequência para a expedição. Enquanto subia e descia o rio, ela foi ultrapassada pelo grupo de Diego de Lepe. Pois é, Cabral não foi nem o primeiro nem o segundo a chegar, comprovadamente, à costa brasileira. Lepe, primo de Pinzón, saíra da Palos 20 dias depois e empreendeu uma "viagem irmã", chegando ao litoral brasileiro dois meses antes de Cabral.

Ao bater no cabo de Santo Agostinho, Lepe navegou algumas milhas para o sul e voltou, percorrendo em seguida a mesma trajetória de Pinzón. Sua viagem está descrita, ainda que com menos detalhes, pelos mesmos cronistas da época, que também o entrevistaram. Logo, enquanto Pinzón foi o primeiro a percorrer o trecho do cabo de Santo Agostinho ao Amazonas, Lepe é considerado o descobridor do trecho que vai do rio Amazonas até o Essequibo, atual fronteira da Venezuela com a Guiana. Os dois viajantes ainda seguiriam a costa sul-americana até o golfo de Pária, antes de subir ao Caribe e regressar à Europa. Essas regiões, no entanto, já haviam sido navegadas e mapeadas por Colombo e por Juan de la Cosa - aquele mesmo autor do mapa que atesta a viagem de Pinzón. O curioso é que, diferentemente do que aconteceu com Duarte Pacheco, boa parte do litoral que os dois percorreram estava na zona de soberania portuguesa de acordo com o Tratado de Tordesilhas.

Papel de Cabral

Pedro Álvares Cabral saiu de Portugal com destino a Índia em março de 1500. Não há dúvida de que chegou, tomou posse, rezou missa, fincou cruz e deu início ao processo que tornou o Brasil uma colônia portuguesa - e por isso mesmo ficou com a fama de descobridor. A controvérsia sobre sua viagem é se teria chegado por acidente ou intenção, mas até isso não é mais mistério. Sabe-se que, no local em que deveria tomar o rumo leste, os ventos sopravam para esse mesmo lado. Logo, é improvável que tenha vindo para oeste por acidente.

O que se discute é se veio por ordem do rei ou dos conselheiros reais, nobres e comerciantes que discordavam da viagem para a Índia. "Os mercadores privados e a maioria do conselho do rei preferiam a expansão no Atlântico, onde não era necessário entrar em conflito com os muçulmanos e os monopólios reais eram restritos a alguns portos e produtos", explica o historiador Thomaz. "Para o rei, o Brasil constituiria somente uma escala para a Índia, mas para os mercadores privados era a perspectiva de um novo mundo a explorar." Portanto, é bem possível que o fidalgo Cabral tenha resolvido contrariar o rei.

A hipótese poderia explicar o fato de ter sido "esquecido" pelo monarca, que nunca mais o escolheu para qualquer missão em mar ou em terra. Cabral morreu sem glória, sem retrato ou busto de descobridor do Brasil. Os outros descobridores não tiveram melhor sorte. Duarte Pacheco ainda foi tratado com honra por dom Manuel, que lhe deu o comando de uma armada para as Índias e o cargo de governador de São Jorge da Mina - posições muito lucrativas. Com a ascensão de dom João 3º, porém, ele seria perseguido e preso sob a acusação de desvio de ouro. Pinzón faria outra viagem ao Novo Mundo, na qual teria sido o primeiro europeu a encontrar os astecas, no México, mas morreu endividado, em 1514. Da vida de Lepe sabe-se menos ainda. Morreu em Portugal em 1515 e não se tem notícia nem de onde foi enterrado.

Dificilmente saberemos se outras pessoas não teriam chegado ao litoral brasileiro antes desses homens. A história dessas viagens foi preservada em poucos documentos. Quantas outras, de menor importância ou maior segredo, não teriam sido feitas? Quando Martim Afonso de Souza veio para o sul do Brasil, em 1530, encontrou por aqui certo Bacharel de Cananeia, degredado europeu apresentado em diversas crônicas do século 16. Os registros da viagem de Afonso dizem que o Bacharel estava no Brasil havia 30 anos. A maioria dos historiadores defende que ele fora deixado aqui por Gonçalo Coelho, em 1502, mas alguns dizem que isso teria acontecido em 1499, numa suposta expedição de Bartolomeu Dias ao Brasil - de qualquer forma, ele estava justamente onde passava o meridiano de Tordesilhas.

Não há evidências concretas de qualquer outra viagem no Atlântico Sul entre 1488 e 1498. Apesar da falta de provas, provavelmente houve, sim, outras expedições à região. Vasco da Gama percorreu no caminho para a Índia a mesma rota que os velejadores fazem até hoje entre a Europa e o sul da África. Gama teria acertado o melhor caminho, de primeira, por pura sorte? Ou teria feito isso depois de um longo e meticuloso período de viagens de exploração? Domingues arremata: "Essa é uma pergunta que se faz há mais de 100 anos".

A briga pelo desconhecido

Tordesilhas criou a suspeita de que Portugal já sabia da existência do Brasil


O Tratado de Tordesilhas ficou famoso por ter divido, em 1494, um mundo que não se conhecia entre portugueses e espanhóis. O primeiro acordo a fazer isso, no entanto, foi firmado entre os dois países na cidade lusa de Alcáçovas, em 1479, quando a disputa de ambos pelo Mar Oceano começava a se acirrar.

O acordo dividia o Atlântico horizontalmente, com as ilhas descobertas por Colombo na área de soberania lusitana. Por isso, Castela buscou um novo tratado. Dom João 2º recusou as contrapropostas castelhanas de divisão vertical - com linhas a 100, depois a 270 e a 350 léguas a oeste de Cabo Verde - e ameaçou ir à guerra até garantir uma margem de 370 léguas. Por que o monarca português insistiu tanto em 370 léguas? Para os reis católicos, ele já sabia da existência de terras no Atlântico sul. Até hoje, a suspeita nunca foi confirmada, mas, curiosamente, essa raia garantiu a Portugal uma boa parcela do Novo Mundo. E, se não fosse pela persistência de dom João 2º, nunca teria existido o Brasil como o conhecemos hoje.

O segredo da volta pelo largo

Portugueses foram os primeiros a dominar a navegação em alto-mar


No século 14, Portugal era principal potência marítima do mundo. As caravelas foram uma de suas principais invenções, ao lado de equipamentos e cálculos astronômicos, que os permitiam situar-se no mar mesmo longe da costa. Assim, descobriram que no oceano a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta. Quando iam para o sul, enfrentavam um constante vento para o norte ao passar do Equador, o que tornava a viagem muito lenta. Então, aprenderam a seguir os ventos que existem na zona tropical atlântica. Para ir ao sul da África, seguiam para oeste até onde o vento fazia a curva para então rumar para leste. A ¿volta pelo largo¿ fazia os portugueses passarem raspando pela costa brasileira. Se dom João organizou viagens para conhecer ventos e correntezas do Atlântico Sul após a viagem de Bartolomeu Dias em 1488 e antes de Tordesilhas, é possível que seus exploradores tenham visto indícios de terra - ou até terra mesmo - antes de 1494.
A ilha imaginária
"Brazil", terra mitológica de origem celta, aparecia em mapas da Idade Média


Antes da Era dos Descobrimentos, os europeus tinham várias superstições em relação ao mar aberto. Algumas eram assustadoras, como as de monstros marinhos. Outras eram sedutoras, como as que falavam de Hy Brazil, ilha mitológica e paradisíaca situada em algum lugar do Atlântico. Sua origem provável é uma lenda celta, e ela é mais frequentemente localizada a oeste da Irlanda, um dos lugares onde esse povo viveu. Sua posição, no entanto, mudava a cada 7 anos, ou a cada vez que era avistada, dependendo da versão da lenda. Questões geográficas à parte, essa é a ilha imaginária mais desenhada nos mapas europeus dos séculos 14 e 15. O nome da ilha, a propósito, é uma das dezenas de explicações sobre o batismo de nosso país. O termo "brasil" já era usado desde a Idade Média para madeiras de tinta encontradas na Ásia. Quando os portugueses encontraram uma terra com esse tipo de madeira, a existência de um ilha com nome semelhante em tantos mapas teria ajudado o apelido a emplacar.

Saiba mais

Livro


A Construção do Brasil, Jorge Couto, Forense, 2011

Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br

Os chineses descobriram a América?


  A viagem dos almirantes chineses -
A viagem durou 31 meses, entre março de 1421 e outubro de 1423.

Fonte: http://mundogeo.com/blog/2006/10/30/novo-livro-afirma-que-chines-descobriu-o-brasil-e-autor-diz-que-%E2%80%9Ce-hora-de-fazer-justica%E2%80%9D/


Em 2002, o inglês Gavin Menzies chocou o mundo ao afirmar que uma frota de 300 navios, liderada pelo chinês Zheng He, teria descoberto a América, 70 anos antes de Colombo. Agora, à luz dos indícios que ele apresentou, especialistas do mundo todo discutem se isso seria possível
Está para começar a maior aventura marítima de todos os tempos. O ano é 1405, o cenário, a China da dinastia Ming, época de desenvolvimentos sem precedentes na história do país, que conta, agora, com suficiente conhecimento tecnológico, dinheiro e, é claro, uma ambição sem limites para tornar possível o sonho de navegar mundo afora. O imperador Zhu Di acaba de construir uma frota espantosa: 300 navios capazes de transportar 28 mil homens. No comando, o eunuco Zheng He, um dos principais conselheiros do imperador. Durante os 15 anos seguintes, as velas de seda vermelha seriam vistas no Camboja, Java, Sri Lanka e Índia. Mas a grande viagem ainda estava por vir. Em 1421, a frota partiu para um projeto mais audacioso: atravessar o oceano Índico, costear a África e, se o inglês Gavin Menzies estiver certo, descobrir a América e dar a volta no planeta.
As façanhas de Zheng He não são novidade: sabe-se que de 1405 a 1433 os chineses exploraram todo o oceano Índico, o mar da Arábia e a costa oriental da África. “Escavações no Quênia encontraram restos de porcelanas chinesas do século 15, raras até mesmo na China”, diz o historiador Geoff Wade, da Universidade de Cingapura, um dos maiores especialistas no período Ming. Essas viagens são consideradas, hoje, uma das maiores expedições marítimas de todos os tempos. Em 2002, no entanto, um almirante aposentado da Marinha inglesa e pesquisador naval nas horas vagas, Gavin Menzies, lançou o polêmico 1421 – The Year that China Discovered America, (“1421 – O Ano em que a China Descobriu a América”, editadoem português pela editora portuguesa Dom Quixote), dizendo que os chineses haviam ido bem além do Índico e navegado até a América 70 anos antes de Cristóvão Colombo e dado a volta ao mundo quase um século antes de Fernão de Magalhães.
A comunidade acadêmica internacional concorda que aos chineses de 1421 não faltava tecnologia para fazer grandes viagens pelo mundo. Eles já conheciam a bússola e passeavam pelo Índico desde o século 9. “A tecnologia naval chinesa era incomparavelmente mais avançada que a européia no século 15”, diz o professor Mario Sproviero, da Universidade de São Paulo, especializado em cultura oriental. “Eles possuíam plenas condições de chegar à América.”
Se na época houvesse uma aposta para ver quem chegava à América primeiro, os chineses seriam os favoritos. Segundo a americana Louise Levathes, no livro When China Ruled the Seas (“Quando a China Dominava os Mares”, sem edição brasileira), os chineses conseguiam passar mais tempo no mar e ter tripulações maiores porque tomavam mais precauções que os europeus. “Eles levavam animais vivos como alimento e um navio com água doce para abastecer toda a frota por pelo menos um mês”, diz. Os barcos tinham 120 metros de comprimento e resistiam bem às tempestades em alto-mar. As caravelas européias mediam no máximo 24 metros.
Mas poder não é querer. “Os chineses só navegavam próximo à costa, de onde avistavam portos para desembarcar porcelana, seda e pedras preciosas. Seu negócio era o comércio e não a exploração, muito menos a colonização”, diz Xu Consheng, professor da Universidade de Fuzhou, na China.
Para Menzies, isso é apenas meia verdade. O ponto de partida de sua teoria é um mapa europeu de 1459, feito pelo cartógrafo veneziano Fra Mauro – um dos tesouros de Veneza–, guardado na Biblioteca Nacional Marciana. Para ele, o mapa prova que os chineses já conheciam o lado oeste da África, primeiro passo para atravessar o Atlântico. “Fra Mauro mostra o cabo da Boa Esperança (o ponto extremo sul da África), que o português Bartolomeu Dias só viria a descobrir 30 anos depois”, diz. Mas onde a China entra nessa história? Menzies diz que um pequeno desenho no canto do mapa é um barco chinês, o que demonstraria a origem das informações contidas no mapa. Além disso, ele cita um documento no qual Fra Mauro afirma que baseou seu mapa em uma “fonte confiável” que conhecia a fundo a geografia da época. Para Menzies, essa fonte foi Niccolò de’ Conti, veneziano que viveu em Calicute, na Índia, no início do século 15 e que teria conhecido os chineses da frota de Zheng He. Mas isso não basta para provar uma viagem transatlântica.“A especulação pode fazer sentido, porém não há provas de nada disso”, diz Piero Falchetta, curador da Biblioteca Nacional Marciana. “Mas que o desenho parece um barco chinês, parece.”
“Mesmo que tivessem chegado à costa oeste da África, atravessar o Atlântico não fazia parte das tradições da navegação chinesa”, diz Wade. “Nem da espanhola”, rebate Menzies. Para ele, a rota via Cabo Verde seria a mais lógica. E é ali que ele deposita uma de suas principais esperanças de provar o que diz. “Em 2001, encontramos duas pedras parecidas com as que Zheng He deixava para marcar sua passagem. Elas estão danificadas, mas creio que demonstraremos que suas inscrições são caligrafia chinesa do século 15”, diz Menzies.
No livro, Menzies enumera uma série de indícios que vão de esqueletos pré-históricos, passando pelo DNA de povos pré-colombianos, até um observatório erguido por Zheng He na Flórida, nos Estados Unidos (veja no quadro da página 42). A principal crítica dos especialistas a Menzies tem a ver com seus métodos de dedução. “Ele parte de uma suposição, ou seja, de coisas que poderiam ser do jeito que ele deseja, para realizar suas afirmações”, diz Wang Tianyou, historiador da Universidade de Pequim. “É uma boa história, mas 99% do que li em seu livro não encontra qualquer fundamento documental ou arqueológico”, afirma Geoff Wade. A historiadora inglesa Frances Wood, especialista em cultura chinesa da Biblioteca de Londres, concorda. “É uma seqüência de indícios que Menzies quer transformar em provas”, diz.
Outra dúvida que não quer calar: para a civilização que inventou o papel, a impressão e uma das formas mais antigas de escrita, não haver nenhum documento registrando essa viagem não soa estranho? Menzies explica que, com a morte do imperador Zhu Di, em 1424, desapareceu o interesse pelas navegações. Todos os documentos relativos à façanha de Zheng He ficaram abandonados e por fim, em 1644, quando acabou a dinastia Ming, os imperadores da dinastia Qing decidiram fechar a China para o Ocidente, destruindo as evidências das viagens de Zheng He.
Mas nem tudo foi destruído. “Na China, no Vietnã e no Camboja foram encontrados monumentos de pedra, feitos a mando de Zheng He e de seus capitães, que falam de suas façanhas. Nem uma palavra sobre a viagem transatlântica”, afirma Geoff Wade.
Mas, se no meio acadêmico são raros os que se dispõem a dar ouvidos a Menzies, entre as autoridades chinesas suas teses polêmicas têm público garantido. Querendo tirar o melhor proveito diplomático e político da súbita fama internacional de Zheng He, o governo da China anunciou em julho que prepara para 2005 uma grande festa nos 600 anos da primeira viagem de seu novo herói. Mas a cúpula chinesa crê que seus antepassados deveriam levar os louros pela descoberta da América? Em entrevista por e-mail a Aventuras na História, o representante do Ministério das Comunicações da China, Yang Xiong, disse: “Essa é uma questão que ainda precisa ser muito discutida”.
No momento, o governo chinês parece mais interessado em explorar o aspecto cultural das viagens do século 15, que teriam tido o mérito de aproximar civilizações distantes. “Em vez de ocupar territórios, construir fortalezas e procurar tesouros, Zheng He e seus homens trataram outros países com amizade”, afirma Xu Zuyuan, assessor do Ministério das Comunicações. “Achamos que o legado das viagens de Zheng He para o oeste é que um crescimento pacífico é o resultado inevitável da história da China.”
Para o historiador Xi Congfei, da Universidade de Wuhan, na China, as viagens não eram tão pacíficas. “Cerca de 80% dos homens das frotas eram militares, que tanto serviam de segurança da frota como de modo de intimidação às outras nações”, diz ele. Os chineses pretendiam estabelecer mais rotas comerciais com os países asiáticos e também cobrar impostos de um maior número de nações. Algumas vezes, a coerção era tão grande que acabava em sangue. Foi o que aconteceu na Sumatra, em 1407, quando os homens de Zheng He mataram 5 mil pessoas em violento combate marítimo. “Nem todos os governantes aceitavam as condições impostas pela China. É um engano pensar que as expedições tivessem apenas aspectos amistosos e culturais”, diz Wade.
Para Gavin Menzies, se o caminho iniciado pelo imperador Zhu Di tivesse sido levado adiante pelos líderes que se seguiram, é provável que a China tivesse se tornado uma potência colonialista. “Mas, na época em que ocorreu, os chineses não tinham projeto de ocupar e explorar outras terras e pouco impacto provocavam por onde passavam, onde não ficavam por períodos maiores que algumas semanas”, diz Menzies.
E no Brasil? No Brasil, nem isso. Não há indícios da passagem dos chineses por aqui. “Mesmo que os chineses tivessem estado no Brasil antes de Colombo, as conseqüências disso seriam quase nulas”, diz Menzies. Os portugueses, depois de chegarem ao Brasil, criaram um sistema de colonização para abastecer Portugal de cana-de-açúcar e gerar renda. A partir daí, começaram o povoamento. “Os chineses nem sequer sonhavam com um empreendimento do gênero.”
Para Mario Sproviero, quer tenham sido os chineses, quer outro povo qualquer, o que conta é a chegada dos europeus no século 16, porque eles desenvolveram um projeto para a América. “Mas a curiosidade do homem vai mais longe, e como a descoberta da América em parte permanece um mistério, não vamos sossegar enquanto não soubermos bem mais sobre esse assunto”, diz o historiador Geoff Wade. Para Gavin Menzies e outros interessados no tema, é apenas o início de uma grande aventura – tão emocionante quanto a de Zheng He e de sua poderosa frota, que permanecem vivos na memória de ambos os lados do Atlântico.

A grande viagem

As rotas que, segundo Menzies, Zheng He e seus amigos seguiram
Descobrindo a América
A frota se dividiu ao deixar o porto de Sumatra, no Índico. Foi a esquadra comandada por Zhou Wen que, depois de contornar a África e aportar em Cabo Verde, teria chegado à América, onde hoje fica a ilha de Guadalupe. Depois teriam feito a rota inversa para casa
Antártida
Comandados por Hong Bao, cerca de 30 barcos se separaram da frota principal em Cabo Verde, chegando à América do Sul (onde hoje é a Guiana) e costeando o Brasil até a Patagônia. De lá, Antártida e Austrália, antes de chegar a Pequim
Pertinho do Pólo Norte
Depois de contornar os Estados Unidos, parte da frota comandada por Zhou Wen teria navegado entre as geleiras da Groenlândia e do Círculo Polar Ártico, dado uma passadinha no Japão e sido a última a voltar
Estreito “Man”
Zhou Man comandou a esquadra que teria chegado ao Pacífico pelo estreito de Magalhães, uma das rotas marítimas mais perigosas do mundo. Sua frota teria navegado ainda na Oceania e estado na costa da Califórnia e México

Quem chegou primeiro?

Na Escandinávia, as crianças aprendem que o descobridor da América foi Leif Ericson, um norueguês que chegou ao Canadá no século 11. Lá ele é um herói com direito a estátua em praça pública e retrato nos livros escolares.
O livro A História da Islândia, de Ari, o Aprendiz (1067-1148), já fazia menção a uma tal Wineland, uma próspera colônia do outro lado do mar gelado. Em 1965, na ilha de Anse aux Meadows, no Canadá, arqueólogos encontraram um conjunto de construções e artefatos do século 11, indícios da presença viking na América.
Os livros escolares em Portugal também mudaram os capítulos referentes à descoberta do Brasil. Em 1998, o historiador português Jorge Couto, da Universidade de Lisboa, publicou Construção do Brasil, onde afirma que quem descobriu o Brasil não foi Cabral, mas Duarte Pacheco. Segundo Couto, em 1498, dom Manuel I mandou que Pacheco navegasse ao sul da rota de Colombo para ver se encontrava alguma coisa. Partindo de Cabo Verde, ele encontrou, sim: o norte do Brasil.
“Em Portugal, os principais historiadores não têm dúvidas de que Duarte Pacheco chegou ao Brasil antes de Cabral”, diz José Manoel Garcia, pesquisador do Centro de Estudos Históricos da Faculdade de Letras de Lisboa.
No século 20, surgiram várias teorias sobre quem teria chegado primeiro à América do Sul. Nos anos 50, o antropólogo norueguês Thor Heyderdahl afirmou que moradores da ilha de Páscoa, vindos da Polinésia, teriam colonizado o Peru, por volta do ano 800. Ainda hoje são feitas pesquisas na ilha da Páscoa e no Peru para tentar comprovar a tese.

Diz-que-diz

As principais evidências de Menzies versus a opinião dos especialistas
Mapa de Fra Mauro
Menzies diz que o mapa – que mostra o cabo da Boa Esperança, 30 anos antes de sua primeira circunavegação – baseia-se nas informações de Niccolò de‘ Conti, que repassou a Mauro os conhecimentos chineses. O museólogo italiano Piero Falchetta, que pesquisa o documento há 25 anos, diz que não é possível comprovar essa teoria. Mas diz: “Como Fra Mauro soube da existência do cabo da Boa Esperança continua sendo um mistério”.
Trinta ou 3 mil?
Zheng He erguia monumentos relatando suas viagens, nas principais cidades da China. Em um deles ele menciona, segundo Menzies, ter visitado 3 mil lugares. De acordo com o lingüista chinês Wu Luming, do museu de Taincang, na China, Menzies se confundiu na tradução. “Na verdade, está escrito que ele foi a 30 lugares. A grafia da época confunde”, diz. Gol contra.
Zoológico estranho
Mamíferos que só existiam na Patagônia, como o milodon, hoje extinto, aparecem no livro Registros Ilustrados Chineses de Países Estranhos, de 1430. Darwin encontrou um esqueleto do milodon em uma praia da Patagônia em 1834 e o levou para Londres, onde foi remontado e ficou famoso. “Não há explicação para o fato de o milodon aparecer no livro chinês. Ele poderia existir também na China, mas nunca foram descobertos ossos do bicho por lá”, afirma o historiador chinês Xi Congfei. Ponto para Menzies.
Garranchos
Duas pedras seculares com inscrições que estavam parcialmente enterradas em Cabo Verde estão sendo estudadas, a pedido de Menzies, que afirma se tratar de escrita chinesa. Porém, os especialistas contratados pelo próprio Menzies dizem que as inscrições estão muito apagadas e até agora não puderam decifrá-las.
Entrou água
Menzies alega que uma formação rochosa submersa próximo à costa das Bahamas, no Caribe, foi um porto chinês no século 15. As rochas formam dois corredores paralelos da praia até 400 metros mar adentro. John Gifford, especialista em ciências marítimas da Universidade de Miami, diz que são formações naturais. “Pesquisamos essas rochas há 30 anos e jamais encontramos indícios de atividade humana. Publicamos em 1980 um estudo sobre os eventos geológicos responsáveis por essas formações, que saiu até na National Geographic. Talvez o senhor Menzies tenha tomado conhecimento dele”, diz Gifford.
Mundo da lua
Um antigo observatório em Newport, em Rhode Island, teria sido construído pelos chineses. Menzies não tem nenhuma prova e só diz isso porque era “típico dos navegadores chineses erguer observatórios estelares para auxiliá-los na navegação”. Segundo John Gifford, a construção é comprovadamente obra dos espanhóis. “As plantas do prédio ainda existem e pertencem ao Museu Naval de Newport”, diz. Menzies admitiu tirar essa afirmação da próxima edição de seu livro.

Saiba mais

Livros
1421 – The Year China Discovered America Gavin Menzies, Harper Collins, 2002 - Íntegra das teses de Menzies. Algumas refutadas por especialistas serão retiradas nas próximas edições
When China Ruled the Seas, Louise Levathes, Oxford University Press, 1996 - Jornalista americana, que colaborou durante 10 anos para a National Geographic, faz um saboroso relato sobre as viagens de Zheng He. Nada sobre a viagem para a América

Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br

"Descobrimento" da América e do Brasil: História Oficial

 Cristóvão Colombo, figura de suma importância na descoberta da América, nasceu em Gênova – província italiana da região de Ligúria –, no ano de 1451, pertencente a uma rica família de artesãos.
Não se tornou, porém, um intelectual, interessando-se pelos conhecimentos referentes à navegação e à cartografia, vindo a ter sua primeira experiência no mar aos 10 anos de idade.

Aos 25 anos, já no ano de 1476, foi vítima de um naufrágio ao longo do Algarves – região mais ao sul de Portugal Continental –, quando se encontrava no interior de uma caravela comercial flamenga. Em conseqüência deste incidente Colombo acabou indo para Lisboa, local em que morava seu irmão Bartolomeu. Viveu ali por um tempo razoável para que se casasse com uma portuguesa rica, natural da Ilha da Madeira.
Era de interesse de Colombo explorar os mares e as novas terras que ainda se encontravam por assim dizer, escondidas, porém a Coroa Portuguesa negou a ele apoio para esta empreitada, esperando desta forma proteger o privilégio da posse exclusiva sobre as navegações, mesmo tendo total conhecimento dos interesses econômicos e políticos que abrangiam a concorrência pela possessão dos mares e das terras que ainda restavam ser encontradas e colonizadas.
Somente no ano de 1492, com 41 anos de idade, Colombo realiza seu sonho de explorar os mares, com o consentimento dos Reis Católicos de Aragão e Castela – Fernando II e Isabel I -, que lhe deram total liberdade para agir.
A expansão marítima era de total interesse dos reinos europeus, com destaque para Portugal e Espanha, os mais interessados em ampliar suas possessões territoriais e descobrir novos caminhos marítimos como alternativas para a realização do comércio.
O objetivo maior era alcançar as Índias – nome que abrangia todo o Oriente -, grande abastecedora de especiarias e um novo ponto comercial de consumo.
A Armada da primeira viagem de Colombo, constituída pelos navios Santa Maria, Pinta – cujo capitão era Martín Alonso de Pizón – e Nina – comandada pelo capitão Vicente Yáñez Pinzón -, sai do porto espanhol de Palos em 03 de agosto de 1492.
No dia 12 de outubro ancora em uma ilha denominada pelos índios de Ilha de Guanahaní, porém batizada por Colombo com o nome de San Salvador (Bahamas), pensando ter alcançado as Índias. O primeiro desembarque deu-se na Baía Long, no litoral ocidental, local em que foram afixados o estandarte Real, pelo então denominado Almirante Colombo, e as demais bandeiras da Cruz Verde, fixadas pelos outros capitães. O escrivão da Armada, Rodrigo de Escobedo, foi incumbido de redigir e escrever o documento de posse da nova terra.
No ano de 1500 o Brasil é descoberto, entre 1503 e 1513 cabe a Américo Vespúcio e outros navegadores explorarem as Antilhas e o litoral atlântico na parte mais ao sul dos territórios recém-descobertos. Em 1508 eles alcançam a península de Yucatán – México – e no ano de 1512 chegam à Flórida e ao delta do rio Mississipi (EUA). Diante das evidências, concluem que descobriram um novo continente, que em homenagem a Américo Vespúcio é denominado América.
O descobrimento da América fez desmoronar uma idéia remota de que o mundo era constituído apenas por um bloco de três continentes: Ásia, África e Europa, rodeado por um grande oceano.
Com a descoberta do Novo Mundo, Colombo marca uma nova era, que transformou de forma expressiva e irreversível a fisionomia do mundo, que se baseia nas relações políticas, econômicas e sociais entre os povos ocidentais.
A colonização da América se realizou primordialmente por quatro povos: espanhóis, portugueses, ingleses e franceses. Ocorreram duas formas de colonização diferentes: colônias de povoamento, suas especificidades básicas consistiram em: pequena propriedade, cultura variada e trabalho familiar objetivando o mercado interno; nas de exploração havia a predominância da ampla propriedade, da monocultura (um só tipo de cultivo) e do trabalho escravo, sempre de olhos bem abertos para o que se passava no mercado europeu.
O continente americano foi repartido geograficamente em América do Norte, América Central e América do Sul, sendo envolto a oeste pelo Oceano Pacífico e a Leste pelo Atlântico. Ele é considerado o segundo maior continente do mundo com aproximadamente 42.560.270 quilômetros quadrados.
Há também uma separação sócio-econômica que divide o continente em dois blocos: Canadá e Estados Unidos ao Norte e a denominada América Latina – que compreende os outros países das América Central e do Sul.
Há uma enorme diferença econômica entre os dois blocos: Estados Unidos e Canadá possuem um PIB (Produto Interno Bruto) bastante significativo no mundo, sendo que os demais países que fazem parte da América Latina, 33 ao todo, vivem na mais profunda miséria, possuem problemas sociais gravíssimos que precisam ser solucionados.

Américo Vespúcio

De Américo Vespúcio originou-se o nome do continente americano

Américo Vespúcio era de uma família tradicional e aristocrática de Florença. Desde os 17 anos trabalhou para os poderosos Médici, como contador na casa bancária da poderosa família.
Enviado em 1489 a Sevilha, Vespúcio conheceu Giannoto Berardi, sócio dos Médici e um conhecido financiador e armador de navios. Através dele, Vespúcio conheceu Colombo, logo após o retorno do navegador de sua primeira viagem (1492-93).

Aos 45 anos, Vespúcio decidiu "ganhar o mar" e, em 18 de maio de 1499, partiu com a expedição de Alonso de Hojeda (que provavelmente ajudou a financiar). Saindo de Cádiz, as caravelas alcançaram a costa norte da América do Sul (Suriname, Trinidad, Haiti, etc.) e retornaram a Espanha em 8 de junho de 1500.

No mês seguinte Vespúcio escreveu a seu antigo patrão, Lorenzo di Médici, não só omitindo o nome de Hojeda, mas colocando-se na posição de comando. D. Manuel 1º, entusiasmado com as notícias de Vespúcio e com as informações sobre a Terra de Santa Cruz, trazidas por integrantes da esquadra de Cabral, organizou outra expedição ao Brasil, confiando-a ao florentino.

A princípio Vespúcio hesitou, ainda cansado, e em conflito se deveria navegar sob a bandeira portuguesa. Mesmo assim, partiu de Lisboa em 13 de maio de 1501 sob o comando de Gonçalo Dias. A frota navegou rumo às ilhas Canárias. Parando em Bezeguiche (atual Dacar, Senegal), próximo a Cabo Verde, encontrou com o navio de Diogo Dias e com a caravela Nossa Senhora Anunciada, que aguardava o resto da esquadra de Cabral.

Nesse encontro, Vespúcio pode colher preciosas informações com Gaspar da Gama e teve a certeza de que estavam falando sobre um novo continente. Em agosto de 1501, as três caravelas da esquadra de Gonçalo Coelho ancoram na Praia de Marcos, litoral do atual Rio Grande do Norte. O contato com os nativos não foi amistoso e os viajantes puderam ver um dos marujos ser devorado pelos índios.

Gonçalo Coelho achou melhor zarpar do local, contornando o litoral do Brasil rumo ao sul. Munidos de um calendário Litúrgico, começaram a batizar os lugares onde atracavam, com nome de santos do respectivo dia. Como exemplo, em 1 de novembro de 1501 à baía, denominada Baia de Todos os Santos. Em 1 de janeiro de 1502 os tripulantes deparam-se com o que pensavam ser a foz de um rio, batizando o local com o nome de Rio de Janeiro.

De volta a Lisboa em 1502, Vespúcio escreveu a Lorenzo de Médici e falou das árvores (inclusive do pau-brasil), dos frutos saborosos, dos animais e dos habitantes de "corpo bem feito" do novo mundo.

No ano seguinte uma nova expedição foi formada, com Gonçalo Coelho novamente no comando. Em 10 de agosto a frota avistou um arquipélago (Fernando de Noronha) e Gonçalo Coelho, atingindo alguns recifes, naufragou. Pediu então a Vespúcio que procurasse um porto e o aguardasse. Após oito dias, Vespúcio descobriu que os outros navios o tinham abandonado. Com seus companheiros, prosseguiu a viagem e construiu uma feitoria (provavelmente em Cabo Frio), recolhendo pau-brasil para levar a Portugal.

Quando retornou à Europa, já havia sido publicado na Alemanha um panfleto em latim, com quinze páginas, narrando uma viagem de Vespúcio ao "Novo Mundo". A popularidade trazida pelas narrativas converteu-o num dos textos mais vendidos à época. Foi o cartógrafo Martin Waldseemüller quem primeiro nomeou o novo continente de América, em sua homenagem.

Vespúcio permaneceu alguns meses em Lisboa após sua terceira viagem, mas no ano seguinte, de volta à Espanha, recebeu em 24 de abril de 1505, a naturalização por parte da Corte espanhola. Também após seu retorno a Sevilha, Vespúcio se casou com Maria Cerezo, sua esposa até a morte dele em 1512. 

Pedro Álvares Cabral
Navegante português que descobriu o Brasil, em 22 de abril de 1500, nasceu no ano de 1467 em Belmonte e faleceu em Santarém, no ano de 1520. Era de família nobre, filho de Fernão Cabral e D. Isabel de Gouveia. Estudou ciências humanas e táticas armadas na corte de Afonso V. A corte de D. João II o nomeou fidalgo aos 16 anos. Casou-se com D.Isabel de Castro.
Desenvolveu grande habilidade de navegação e diplomacia, reconhecendo o seu, o rei D.Manuel o nomeou para comandar uma esquadra de 13 navios para às Índias.
Cabral partiu com sua esquadra no dia 8 de março de 1500. Em 14 de março, chegou às Ilhas Canárias e no dia 22 em Cabo Verde. Em 22 de abril, Cabral atingiu a costa brasileira.
A esquadra de Cabral partiu novamente em 2 de maio de 1500, em direção às Índias, chegando em Calecute em 15 de setembro, encontrando hostilidade do povo hindu. À força de armas, Cabral conseguiu chegar às cidades de Cochiu e Cananor.
Chegou em Lisboa no dia 21 de julho de 1501, com apenas seis das 13 embarcações iniciais. Teve, em 1502, sua segunda expedição entregue a Vasco da Gama, em vistude de atritos com D. Manuel. Viveu seus últimos dias em Santarém.






Cristóvão Colombo 

Cartógrafo e navegador, foi o primeiro europeu a chegar às Américas, no dia 12 de outubro de 1492. Sua origem ainda é discutida pelos historiadores. Alguns defendem a idéia de que Colombo seria um genovês, enquanto outros defendem a idéia de que ele seria português. A dúvida paira também sobre o ano de seu nascimento, que deve ter sido entre 1447 e 1451. Nos estudos (freqüentou o colégio), aprendeu a ler e escrever em pouquíssimo tempo. Tinha preferência por geografia e astronomia, pois sempre conversou muito com marinheiros e percebia a importância desse conhecimento para a profissão que lhe atraia. Sua primeira viagem marítima foi aos 14 anos. Aos 20 anos, aproximadamente, já era o comandante das embarcações.
  De 1470 a 1476, Colombo conheceu as mais importantes rotas comerciais do Mediterrâneo, trabalhou como corsário, para então se estabelecer em Lisboa, país no qual permaneceu por dez anos, anos estes que foram decisivos, importantes e um tanto misteriosos.
  Em 1477, viajou para a Inglaterra e para a Islândia, e em 1478 fez várias viagens entre Lisboa e a Ilha da Madeira, com carregamentos de açúcar.
  Entre 1480 e 1484, a vida pessoal de Colombo foi intensa: Casa-se com a portuguesa Felipa Moniz em Lisboa, com ela teve um filho (Diego), que nasceu na Ilha de Porto Santo, próxima a Ilha da Madeira. Morre sua esposa. Em 1488 teria seu segundo filho, Fernando, fruto de uma aventura.
Ainda nesta época, Colombo conhece o “Mapa de Tascanelli”, que embora seja chamado de mapa, pode ter sido uma carta, onde estaria descrita a possibilidade de chegar à China tendo como direção o Ocidente, encarando o desconhecido “Mar Oceano”, como chamavam na época o Oceano Atlântico.
Baseado no Mapa de Tascanelli e em outras obras sobre navegação, Colombo fez vários cálculos, e elaborou um plano. Apresentou tal plano a Portugal, que o recusou.
Entre os anos de 1484 e 1485, Colombo parte para Castela, uma província da Espanha. Consegue então apresentar seu projeto aos Reis católicos Fernando e Izabel, que não lhe deram qualquer reposta definitiva. Cansado de esperar e passando por necessidades financeiras, resolvi partir para França. No inicio da viagem, acompanhado de seu filho, Colombo para em um convento para descansar, e entusiasmado conta seus planos para os monges. Convencidos por Colombo, resolveram ajudá-lo, e pediram que permanecesse na Espanha. O responsável pelos monges foi então a Corte, e lá relatou que Colombo havia desistido de permanecer na Espanha. A rainha resolve recebê-lo e passa a apoiá-lo.
Em 1492, é assinado um acordo entre Colombo e os Reis Católicos. As despesas da expedição foram custeadas (meio a meio), pela Coroa espanhola e por banqueiros genoveses de Sevilha.
Colombo parte em 3 de agosto de 1492, do porto de Palos, com uma frota de 3 caravelas, Santa Maria, Pinta e Niña e aproximadamente 90 homens. Em 12 de outubro chegou à ilha de Guanaani, atualmente conhecida como Ilha Watling, nas Bahamas. Entre 1493 e 1502, realizou mais 3 viagens, chegando a várias ilhas, como: Cuba, Haiti, Porto Rico, Jamaica, Guadalupe, Antilhas e outras.
Em 1504 retorna a Espanha, onde não é bem recebido pelos Reis, devido a intrigas. Morreu em seguida, sem ter recebido o que lhe era de direito, segundo o acordo assinado. Ao morrer, ainda acreditava ter chegado às Índias.
Fontes
Adonias Filho; IMLACH, Gladys M. A vida de Cristóvão Colombo, o descobridor. Rio de Janeiro: Tecnoprint, [19--]. 124 p.

 Fonte: http://www.infoescola.com


Os vikings e a chegada ao Novo Mundo


Por Marcelo Ferroni 

"Colombo ficou com a fama de ter descoberto a América, mas outros europeus estiveram no continente 500 anos antes dele."

Quem descobriu a América? Todo estudante sabe a resposta de cor: o navegante genovês Cristóvão Colombo desembarcou em uma ilhota da América Central no dia 12 de outubro de 1492. Desde então, europeus de várias latitudes atravessaram o Atlântico, invadiram o continente, mataram-se uns aos outros e aos moradores originais, tomaram conta e moldaram à sua vontade o que viram. Mas os livros de História muitas vezes se esquecem de mencionar que, antes de Colombo, outros europeus se aventuraram pelo Atlântico atrás de terras desconhecidas. Por volta do ano 1000, os vikings estiveram na costa canadense e chegaram a levantar assentamentos.

Não há dúvidas sobre isso. Ruínas descobertas na década de 60 por um casal de arqueólogos noruegueses, Helge e Anne Ingstad, comprovaram a presença de representantes dos vikings, conhecidos no restante da Europa como um povo bárbaro que aterrorizou a po pulação do que hoje é a Grã-Bretanha, França, Alemanha e norte da Espanha. As andanças dos vikings pelo Atlântico Norte não devem ser esquecidas, mas não tiram de Colombo o título de descobridor europeu do Novo Mundo.

"O que se considera em História não é só o descobrimento, mas a colonização", afirma Leandro Karnal, professor de História da América da Universidade Estadual de Campinas. "É a colonização que produz História, trágica ou não."
A odisséia viking já era conhecida dos europeus por duas sagas ou lendas antigas dos povos escandinavos compostas nos séculos 13 e 14. Elas narram a história de dois navegadores nórdicos, Eric, o Ruivo, e seu filho Leif Ericsson, e a chegada à Groenlândia e à América. Eric, o Ruivo, não era o que se poderia chamar um cidadão benquisto, mesmo entre os belicosos povos vikings. Foi expulso da Noruega e, em seguida, da Islândia, entre os anos de 985 e 986 por causa dos massacres que costumava promover. Degredado com seu bando, o navegador tomou o rumo oeste e acabou batendo na ponta mais ao sul da Groenlândia. Foi dali que saiu a expedição que chegaria à América 15 anos depois.
A segunda parte da travessia, contam as sagas, foi realizada por Leif, o segundo dos três filhos de Eric. Ele aventurou-se mais ao sul, seguindo a corrente do Labrador até chegar ao que é hoje a Terra Nova, no Canadá. A costa recém-descoberta foi batizada de Vinland. No dialeto viking, a palavra pode ter sido sugerida pelas videiras selvagens e solos férteis que então existiam na região. "Não se sabe se Vinland era o mesmo sítio descoberto pelo casal de arqueólogos na costa canadense", conta o histori ador Leandro Karnal. Mas a colonização do continente não foi adiante. Acredita-se que Leif manteve durante três anos uma comunidade chamada Leifsbudir. Depois disso, um mercador islandês chamado Thorfinn Karlsefni esteve na Groenlândia, casou-se com a cunhada viúva de Leif e obteve permissão para continuar viagem até o Canadá com outros colonos. Isso ocorreu por volta de 1010. A comunidade sobreviveu com seus novos habitantes por mais dois anos.

Inferno na terra


 
 Antigo assentamento viking em L'Anse-aux-Meadows

 


 
Depois disso, não se sabe mais nada. Mas imagina-se que o contato dos nórdicos com os habitantes locais tenha sido, digamos, longe de harmonioso. Quando os vikings pisaram no Novo Mundo, encontraram tribos que já habitavam a região e, como eles, dotada s de uma cultura naturalmente agressiva. Ao contrário do que ocorreu durante a colonização espanhola, foi a vez das tribos americanas mostrarem sua força.

Se não há provas materiais desse confronto, existem os relatos nas sagas vikings. Para começar, os colonizadores chamavam seus novos vizinhos de skraelingar, no dialeto viking uma palavra com muitos significados, quase todos pejorativos. Para alguns historiadores, quer dizer estrangeiro; para outros, pessoas miseráveis ou doentias.

Pois esses "estrangeiros doentios" devem ter acabado com o paraíso viking naquele pedaço de terra. "Não sabemos como os povos locais se autodenominavam", diz John Hale, arqueólogo da Universidade de Louisville especialista em vikings. "Mas sua cultura em alguns aspectos parece ser ancestral à dos modernos inuits (habitantes do norte do Canadá) e dos esquimós." Seja como for, parece claro que houve combates entre europeus e índios. "Afinal, os vikings brigavam com todo o mundo", comenta Karnal. "É verossímil que isso tenha acontecido, ainda mais considerando como eles chamavam os índios."

Baseado nas sagas nórdicas, Hale levanta a hipótese de que tenha havido brigas violentas entre os próprios colonos, potencializadas pelo isolamento de Vinland do resto do mundo viking. Naquela época, a expansão dos nórdicos na Europa começava a perder força. "A explosão populacional na Escandinávia, que gerou a colonização de partes da Rússia, Finlândia, França e Ilhas Britânicas, não era mais a mesma", conta Hale.

Segundo o historiador, depois do ano 1000, os colonos da Islândia e da Groenlândia não produziram mais as imensas famílias que obrigaram a ida a outros continentes e originaram a iniciativa de colonização da América.
Dúvidas históricas
A história contada acima é o que se acredita tenha acontecido. Mas há muitas interpretações sobre os fatos. O professor Alan Macpherson, da Universidade Memorial da Terra Nova, no Canadá, conta, por exemplo, que as mesmas sagas que falam da aventura de Leif, referem-se também a uma viagem à América anterior àquela protagonizada pelo filho do degredado. Leif pode ter sido precedido por Bjarni Herjolfsson, um mercador que navegava entre a Islândia e a Noruega. "A viagem de Bjarni, em 986, foi um feito m uito maior que a de Leif, mas tem sido denegrida ou ignorada com freqüência", contou Macpherson a Galileu. O professor também não concorda com a denominação de vikings para os que chegaram à América. Para ele, os vikings não eram um grupo étnico. "Ele s eram identificados entre os nórdicos como os saqueadores marítimos que atacavam as partes mais civilizadas e cristãs da Europa."

Para os historiadores, a travessia por mares gelados é mais importante que a colonização em si. É considerada um marco de navegação, em uma região perigosa como o Atlântico Norte. Mas o arqueólogo Peter Pope, também da Universidade da Terra Nova , diz que os nórdicos cruzaram o oceano diversas vezes. Considerando a tecnologia de embarcações da época, acredita ele que o feito não era extraordinário. Para Macpherson, "Leif Ericsson estava retraçando a viagem de Bjarni Herjolfsson de 986".

Seja como for, os historiadores concordam que a colonização não mudou a história da América. A glória da descoberta ainda é de Cristóvão Colombo. Depois de uma viagem atribulada que durou dois meses e à beira de um motim, o navegador genovês e seus mar inheiros finalmente avistaram terra. Que pedaço de terra era aquele e qual a primeira ilha avistada pelos europeus, ainda é tema de grande disputa.

Acredita-se que Colombo tenha pisado primeiro na ilha de São Salvador, ou Watling. Em seguida, as embarcações Santa Maria, Pinta e Niña seguiram caminho, em busca do que os navegantes imaginavam ser a ilha de Cipango (atual Japão). Colombo acreditava ter chegado ao Oriente pelo oeste, dando a volta ao mundo. Não sabia que tinha descoberto um novo continente. 


O
valor da concha
 
Se Cristóvão Colombo tivesse outros interesses além da busca de riquezas e, ao chegar ao Novo Mundo, resolvesse coletar uma simples conchinha depois de ter se ajoelhado, beijado o solo e feito suas preces, a primeira ilha em que o navegador genovês pisou poderia ser conhecida hoje.

A idéia partiu de um artigo do paleontólogo e escritor Stephen Jay Gould, descrita em um de seus livros, Leonardo's Mountain of Clams and the Diet of Worms (Harmony Books, 1998, sem edição em português). Ao relatar a chegada dos europeus e a incerteza em descobrir o local exato do primeiro desembarque, Gould parece se deliciar com a descrição de um tipo de concha de um molusco da espécie Cerion, tão comum nas Bahamas que Colombo provavelmente teria se ajoelhado sobre uma ao fazer suas preces. As conchas variam de ilha para ilha na região, o que poderia indicar o local correto de sua origem e denunciar a chegada dos europeus.

Aceita-se que o primeiro ponto de desembarque seja a ilha de Watling, nas Bahamas, hoje chamada São Salvador. Mas a primazia de outros pedaços de terra, como as ilhas Cat e Mayaguana, ainda é defendida por alguns historiadores.

Massacre total

A história continua. Depois de mais três viagens ao novo continente (1493-1496, 1498-1500 e 1502-1504), o navegante genovês caiu em desgraça. O continente que ele descobriu recebeu o nome de América em homenagem a outro navegador, Américo Vespúcio. Mesmo assim, a sua viagem de 1492 abriu caminho para a futura exploração e colonização européia.

"Os espanhóis alteraram a história da América, e essa alteração foi contínua", relata Karnal. "Se outros navegadores estiveram antes por aqui, isso não mudou nada." O que veio depois já podia ser previsto pelos primeiros contatos. Ao contrário dos nativos do norte, que aparentemente souberam se defender muito bem dos estranhos invasores europeus, os habitantes das Bahamas eram tribos pacatas que não eram páreo para os agressivos colonizadores espanhóis. "O genocídio nas ilhas da América Central é o ú nico com ISO 9000", ironiza Karnal. "Nenhum outro conseguiu a eliminação total de um povo como ocorreu nas ilhas. E isso dificulta a compreensão do que houve quando Colombo desembarcou pela primeira vez."

A
s comemorações do milênio
 
Reconquista
O Icelander, réplica de embarcação que levou os vikings à América
Mil anos depois, os povos do continente celebram a chegada dos vikings ao Novo Mundo. Nos Estados Unidos, alguns dos principais museus de história natural do país, como o Smithsonian, em Washington, e o Museu Americano de História Natural, em Nova York , montaram a exposição "Vikings, a Saga do Atlântico Norte", com peças e mapas vikings. No Canadá, é celebrado o que se chamou de "Círculo Completo": o reencontro, na Terra Nova, de descendentes dos primeiros Homo sapiens que migraram há milhares de anos da África e acabaram povoando a Ásia, a Europa e o Novo Mundo. Mas a comemoração mais vistosa foi montada na Islândia. Uma réplica de uma embarcação usada pelos vikings, chamada Icelander (foto acima), atravessou o Mar do Norte e refez o trajeto de Leif Ericsson. A viagem foi iniciada em 17 de junho e durou dez dias.


Anote
Para navegar
Exposição viking

Para ler
Vikings - The North Atlantic Saga, de William Fitzhugh (editor). Smithsonian Institution Press. 2000

Ilustração: Pepe Casals
Ilustrações: mapas, Ronaldo L. Teixeira
Foto: Colombo, Zena 

Fonte: http://galileu.globo.com 

Mapa: Fontehttp://upload.wikimedia.org/